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O silêncio para as mulheres é histórico e não um caso isolado

O silêncio para as mulheres é histórico e não um caso isolado

Titi Muller, Luana Piovani, Livia La Gatto e Luanda Pires. Quatro mulheres conhecidas pela mídia e que recentemente foram silenciadas e atacadas ao confrontarem o patriarcado. O silenciamento das mulheres é algo histórico e recorrente, elas sempre estiveram em importantes lugares, como nas ciências, participando das guerras, das mudanças, mas nunca são lembradas, pois sua participação é sempre apagada.

É o que aborda a historiadora Michelle Perrot, que em seus trabalhos desenvolve reflexões sobre a ausência de mulheres na história como parte de uma sedimentação seletiva. “A dificuldade da história das mulheres deve-se inicialmente ao apagamento de seus traços, tanto públicos quanto privados”, afirma a autora. É um questionamento muito comum quando lemos e estudamos sobre a história da humanidade, as mulheres muitas vezes não aparecem nos anais, e isso não quer dizer que elas não estavam lá, apenas que foram apagadas e silenciadas dos documentos e escritos.

           No início era o Verbo, mas o Verbo era Deus, e Homem. O silêncio é o comum das mulheres. Ele convém à sua posição secundária e subordinada.  […]  O  silêncio  é  um  mandamento  reiterado  através  dos séculos pelas religiões, pelos sistemas políticos e pelos manuais de comportamento. (Perrot, 2005: 9)

O silenciamento das mulheres está presente em muitos lugares e não notamos, como o medo de denunciar uma violência por muitas delas e, quando conseguem fazer isso, os questionamentos que recebem e que não são os mesmos feitos aos homens, o que as afastam ainda mais de buscar ajuda e dos seus direitos. Praticamente todas as mulheres já sofreram algum tipo de silenciamento ou o presenciou em sua vida. Tentativas de se rebelarem não faltaram às mulheres, a caça às bruxas, como contado por Silvia Federici em seu livro O Calibã e a Bruxa, era uma forma da igreja e o patriarcado tirarem os direitos das mulheres sobre seus corpos e vidas.

Segundo a historiadora Michelle Perrot, é o movimento feminista o principal instrumento que tenta dar voz e igualdade às mulheres. É sob essa perspectiva do feminino, que ela buscou desvendar e trazer luz ao papel desempenhado pelas mulheres nos acontecimentos públicos na resistência, na “ação das mulheres dissimulada na trama do cotidiano” (Perrot, 1989: 42). E, mesmo com diversos avanços, as mulheres ainda são silenciadas, impedidas de falarem, de acusar e, quando acusam e mostram o que sofreram por serem mulheres, são ameaçadas, desmerecidas.

No texto a seguir, contamos quatro casos de mulheres que ganharam a atenção da imprensa por tentarem falar, mas foram caladas.

Casos

Em uma recente participação no podcast Desculpa Alguma Coisa, a apresentadora Titi Muller revelou que uma ação judicial do ex-marido Tomas Bertoni, vocalista da banda Scalene, a proíbe de falar sobre ele e sua família. Titi conta que sofreu violência física e psicológica e que foi proibida de falar sobre o caso e sobre Tomas. Segundo a assessoria da artista, há uma liminar da justiça que prevê pena de multa se Titi se manifestar sobre as sete ações judiciais que correm entre as partes. Titi tem uma medida protetiva contra o ex-marido desde 13 de fevereiro de 2023.

O nome de Luana Piovani também foi destaque na mídia recentemente após a atriz gravar vídeos expondo e acusando o ex-marido, o surfista Pedro Scooby, de não cumprir com o acordo da pensão alimentícia dos três filhos deles. Após a divulgação do vídeo, Scooby entrou com um processo na Justiça de Portugal (onde Luana mora com as crianças). Segundo a atriz, o motivo seria a exposição que ela faz nas redes sociais, da postura do ex-marido em relação aos filhos.

Em ambos os casos, envolvendo separação de casais e guarda dos filhos, os ex-companheiros usam a justificativa de preservar as crianças para impedir que as mães exponham os problemas da relação.

A atriz e roteirista Lívia La Gatto é conhecida na rede social Instagram por fazer vídeos de comédia sobre mulheres e machismo. Um de seus vídeos faz uma sátira do coach misógino, Tiago Schultz, que vende cursos e treina homens na internet sobre como tratar mulheres de forma machista. O pequeno vídeo feito por Lívia nem cita o tal coach, mas mesmo assim ele a ameaçou por meio de uma mensagem dizendo que ela devia apagar o conteúdo ou receberia “processo ou bala”.

Luanda é uma das diretoras da Me Too Brasil, ONG criada em 2021 e que atua em casos de violência sexual contra mulheres. Ela foi ameaçada em novembro do ano passado, quando recebeu um e-mail com uma mensagem de que um dos acusados denunciado pela ONG queria matá-la. Ainda no mesmo mês, Luana teve seu carro invadido e um tipo de chip deixado no veículo.

Estas quatro situações, são exemplos  de mulheres que foram caladas e censuradas, por expor problemas conjugais ou expor o patriarcado que as oprime, e que também oprime tantos outros grupos cotidianamente.

Curso A Formação Patriarcal no Brasil

O silenciamento e apagamento das mulheres também está fortemente presente na história do nosso país, e é isso que será apresentado na disciplina ofertada pela Escola As Pensadoras (@aspensadorasoficial), no curso A Formação Patriarcal do Brasil. As aulas serão ministradas pela professora e doutora Ana Prestes. Segundo a professora, não se sabe quando o vocábulo patriarcado começou a ser utilizado, mas há registros da palavra no código Hamurabi, da antiga Mesopotâmia, do século 18 antes de Cristo: “(nessa época) Já usava o termo e designava a necessidade de controle das mulheres em uma sociedade patriarcal”.

Ana é pesquisadora da história da participação política das mulheres no Brasil, e inclusive, é autora e organizadora do livro 100 Anos da Luta das Mulheres pelo Voto – Argentina, Brasil, Uruguai, do Instituto E Se Fosse Você?, publicado em 2021. Em suas aulas, Prestes trará um panorama histórico de como foi formado o sistema patriarcal brasileiro, começando pelo período de colonização do Brasil, quem eram as mulheres dessa época? Como eram tratadas? . E indo até os dias de hoje, em que será que podemos afirmar que é o século das mulheres?.

O curso tem carga horária de 20h, é totalmente online e será transmitido pela plataforma Google Meet. O valor da capacitação é de R$ 135,00 para profissionais e R$85,00 para estudantes, associadas da Escola As Pensadoras (@aspensadorasoficial) podem fazer o curso gratuitamente.  Serão seis dias de aula que acontecerão às sextas-feiras e sábados do mês de março, a partir do dia 10.  Todas as participantes receberão certificado. As aulas serão mediadas por Rita Machado, professora, doutora e idealizadora e coordenadora geral da Escola As Pensadoras (@aspensadorasoficial) .

No link a seguir é possível fazer a inscrição e conferir toda a ementa do curso: https://www.aspensadoras.com.br/cursos/a-formacao-patriarcal-do-brasil

 

Fontes

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2023/02/28/diretora-do-me-too-brasil-que-atua-em-mais-de-250-casos-de-violencia-sexual-contra-mulheres-e-ameacada-de-morte-veja-video.ghtml

https://gshow.globo.com/tudo-mais/tv-e-famosos/noticia/luana-piovani-diz-que-foi-processada-por-pedro-scooby-apunhalada-pelas-costas.ghtml

https://www.uol.com.br/splash/noticias/2023/02/25/titi-muller-se-pronuncia-apos-medida-restritiva-contra-ex-marido.htm

http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/noticia/2023/02/titi-muller-e-proibida-de-falar-sobre-ex-marido-tomas-bertoni-nas-redes-sociais-23912040.html

https://repositorio.usp.br/item/001378658

https://periodicos.unb.br/index.php/museologia/article/view/17782

https://www.scielo.br/j/ref/a/ZQfG5qQzsM95BM9Fmn7HWqx/?lang=pt

https://www.academia.edu/33466946/As_mulheres_ou_os_sil%C3%AAncios_da_hist%C3%B3ria_Michelle_Perrot_pdf