A palavra de origem grega, desmembrada em sua etimologia significa mis(o): odiar, detestar, ter aversão e gimn(o) mulher, resumindo é abominar tudo que se relaciona às mulheres. A misoginia pode se apresentar de diversas formas seja com palavras ofensivas, discursos odiosos, comportamentos e atitudes que menosprezem e inferiorizem mulheres, sempre reforçando intolerâncias negativas, o que promove a discriminação de gênero e a desigualdade social.
Essa aversão às mulheres é uma constância em nossa sociedade, sendo um problema histórico que infelizmente segue até os dias de hoje. Seu reflexo mais grave é a violência de gênero, doméstica e consequentemente o feminicídio, ato de agredir ou matar uma mulher por ela ser mulher, por causa do seu gênero. É a face mais grave da misoginia, a violência. Segundo a quarta edição da pesquisa “Visível e Invisível”, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública junto ao Instituto Datafolha, mais de 18 milhões de mulheres sofreram algum tipo de violência em 2022. Houve um aumento acentuado em todas as formas de violência.
Ainda de acordo com o mesmo relatório, o assédio sexual registrou recordes inimagináveis, tanto no trabalho quanto no transporte público. Um dos motivos apontados para esses crescimentos nos registros de violência contra mulheres tem relação com a ação política de movimentos ultraconservadores, que tem aumentado nos últimos anos. Muitos desses grupos atacam diretamente as mulheres, o feminismo e principalmente a igualdade de gênero, que para eles são temas que devem ser combatidos.
A misoginia não é cometida apenas por homens, mulheres também podem reproduzir esse preconceito com outras mulheres. A mudança desse quadro, o fim da misoginia, depende de uma alteração cultural profunda em nossa sociedade, desconstruindo estereótipos de gênero e promovendo a igualdade e respeito entre as pessoas, independente de gênero.
Para Katte Manne, a primeira filósofa que dedicou uma obra exclusivamente ao tema da misoginia, em seu livro “Down Girl, The logic of misogyny” [Down Girl, a lógica da misoginia], 2018, apesar dos avanços das mulheres as atitudes hostis contra elas se intensificaram.
“Não há dúvida de que nesses meios muito progresso foi feito no que toca à igualdade de gênero, a partir do ativismo feminista, mudanças culturais, reformas legais (leis contra discriminação sexual) e mudanças nas políticas institucionais (ação afirmativa, cujas beneficiárias principais nos Estados Unidos tenderam a ser as mulheres brancas). Ganhos para meninas e mulheres na educação foram impressionantes. Contudo, a misoginia ainda está presente entre nós.” (Manne, 2018, p. xiv)
É muito lucrativo para a sociedade capitalista odiar as mulheres e tratar elas dessa forma. A indústria da beleza ganha muito dinheiro dizendo e mostrando como mulheres devem ser, o que precisam mudar, que padrões devem seguir. Todo o mercado e o capitalismo dependem das mulheres para gerarem mão de obra proletária para seu funcionamento, existência e exploração. Sem as mulheres e com mulheres enfraquecidas a sociedade patriarcal as usa para obter mais dinheiro e disseminar ainda mais as desigualdades sociais e econômicas.
Por que precisamos combater a misoginia?
A misógina é prejudicial e injusta para todos, não só para as mulheres. Esse ódio é um importante agente da discriminação de gênero e perpetuador das desigualdades sociais, impede que as mulheres tenham acesso a oportunidades e recursos iguais aos dos homens. Além de contribuir para a violência contra as mulheres, incluindo assédio sexual, violência doméstica e feminicídio.
A liberdade e a autonomia das mulheres são limitadas pela misoginia, estereótipos negativos são reforçados, desumanizando as mulheres, as levando muitas vezes a serem comparadas com mero objetos. É o que vemos em muitas situações de violência e feminicídio, onde homens matam suas companheiras com a justificativa “se não for minha, não será de mais ninguém”, tratando mulheres como propriedade deles. São problemas que afetam diretamente e negativamente a autoestima e autoconfiança de mulheres, como se sentir boa e importante se o mundo ao redor te diz que você é inferior por ser uma mulher?
Para termos uma sociedade mais justa e igualitária, precisamos combater a misoginia, precisamos criar espaço e ambientes onde as mulheres possam ser quem são, sem medo e com todos os seus direitos e potências garantidos. Sem medo de discriminação e violência, sem medo de andarem sozinhas na rua à noite, sem medo de serem estupradas, sem medo de serem violentadas por quem amam. Esse lugar utópico só será possível com uma mudança em nossa cultura, com incentivos e promoções da igualdade de gênero.
E um dos primeiros e mais importantes lugares para se combater essa aversão é a internet, um local onde ela está muito presente e é incentivada, com coachs, grupos e conteúdos odiosos. Isso se deve ao fato de a internet ser uma terra sem lei, em que não há punição para agressores e machistas, em que por trás do anonimato muitos se sentem no direito de ofender e inferiorizar mulheres. E essas “opiniões” preconceituosas são muitas vezes incentivadoras para agressões e violências contra mulheres. Por que não matar ou agredir uma mulher se nesse ambiente virtual muitos homens recebem aval e incentivo para cometer esse crime?
Mas podemos também fazer da internet um espaço de luta e combate à misoginia, e usar dessa ferramenta como forma de conscientização, mobilização e denúncia. A instituição As Pensadoras (@aspensadorasoficial), busca por meio de seus cursos, livros e comunidades levar informações sobre o feminismo e sua importância para as pessoas. Em seus canais, diariamente são divulgadas ações, ideias e esclarecimentos sobre a relevância de falar de mulheres e seus trabalhos, defendendo o combate ao machismo, ao sexismo e à cultura patriarcal por meio da comunicação e formação intelectual.