No dia 03 de maio, que marca o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, a Escola As Pensadoras destaca três jornais independentes organizados, editados e publicados por mulheres durante a ditadura militar de 1964.
Essas mulheres expressavam o pensamento feminista e político de uma época, desafiando a censura e, por meio de suas publicações, abordavam temas como a anistia dos presos políticos, o feminismo, melhores condições de trabalho e salários iguais, além de pautas como o aborto e métodos anticoncepcionais para mulheres.
Brasil Mulher
O jornal Brasil Mulher foi criado por um grupo de mulheres composto por Therezinha de Godoy Zerbini (1928-2015), assistente social, advogada e ativista de direitos humanos, Joana Lopes, pesquisadora da área de dança, arte-educadora e jornalista e por Maria Amelia Teles (Amelinha), militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e jornalista.
A primeira publicação do Brasil Mulher ocorreu em 09 de outubro de 1975 e foi pioneira na imprensa voltada à luta das mulheres no Brasil, inovando também na forma de divulgar uma visão de mundo e propostas feministas. De acordo com trecho do livro “Breve história do Feminismo no Brasil” de Amelinha, “O Brasil Mulher se propunha principalmente a defender a anistia a todos os presos e perseguidos políticos. E com isso, ele rapidamente se afirmou frente às forças políticas de oposição ao regime militar.” (p. 89). O Brasil Mulher publicou 16 edições regulares e mais quatro edições “extras”, no período de 1975 a 1980.
Nós Mulher
O jornal Nós Mulher foi publicado pela Associação de Mulheres no período de 1976 a 1978. Diferentemente do Brasil Mulher, esse tablóide foi criado a partir de um grupo mais amplo de mulheres, muitas das quais tiveram contato com pautas feministas no exílio. Desde a primeira publicação, afirmou-se como um jornal feminista. A jornalista responsável pela equipe do Nós Mulher era Mariza Corrêa (1945-2016), feminista e antropóloga, que contribuiu para discussões sobre trabalho doméstico e equipamentos sociais, como creches, lavanderias e refeitórios públicos, além de promover debates em escolas e comunidades de mulheres mais periféricas.
Apesar do curto tempo de existência do Nós Mulher, ele também se destacou por perceber que as demandas das mulheres negras eram significativamente diferentes das mulheres brancas, abrindo debate para a quantidade expressiva de mão de obra de mulheres negras nas indústrias. O jornal Nós Mulheres abriu espaço para que essas mulheres pudessem problematizar questões de gênero e raça nos ambientes de trabalho.
Mulherio
No final do ciclo ditatorial, em 1981, a Fundação Carlos Chagas lançou o Mulherio, resultado de um levantamento de pesquisas sobre a situação das mulheres, promovido por universidades e institutos de pesquisas, tendo como responsável pelo projeto a pesquisadora Fúlvia Rosemberg (1942-2014) e, como editora, a jornalista Adélia Borges.
Fúlvia foi uma feminista, professora e psicóloga brasileira conhecida por seus trabalhos sobre educação infantil e ações afirmativas. A jornalista e diretora do Mulherio, Adélia, durante toda a trajetória, envolveu-se em expressar a condição feminina pela imprensa.
Foram publicados 15 exemplares do Mulherio, que abordava diversos temas relativos aos direitos das mulheres no Brasil e no mundo, além de saúde, trabalho, cultura e política. O jornal foi precursor da proposta de “licença-paternidade”, uma ideia que nunca havia sido discutida no Brasil. Diferente de seus antecessores, recebeu financiamento da Fundação Ford e da Fundação Carlos Chagas.
Considerando a importância desses jornais feministas na luta contra a ditadura militar e a censura imposta pelo regime, é fundamental destacar a coragem e determinação das mulheres que organizaram, editaram e publicaram esses veículos, cada uma com sua forma e vivência. Neste dia 03 de maio, é importante reconhecer o papel essencial desses jornais feministas na luta pela liberdade de expressão e pela ampliação do espaço das mulheres na mídia. Seus esforços e realizações abrem caminho para a continuidade da luta por um mundo mais igualitário e justo para as mulheres.
Texto: Lawrin Ritter, Relações Públicas d’As Pensadoras
Fontes:
Carta Capital
Memórias da Ditadura
Mulheres de Luta
Breve história do Feminismo no Brasil de Maria Amélia de Almeida Teles publicado em 2017