Gisele Rose da Silva
Filósofa e Escritora
Herdeiras históricas das ideologias de classificação social (racial e sexual), assim como das técnicas jurídicas e administrativas das metrópoles ibéricas, as sociedades latino-americanas não podiam deixar de se caracterizarem como hierárquicas.
Lélia Gonzales
Entre os dias 19 e 25 de julho de 1992, na cidade de Santo Domingo, na República Dominicana, mulheres negras da diáspora africana de mais de setenta países participaram do I Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe, este encontro é considerado um marco inicial para aproximações e discussões sobre o feminino negro na diáspora.
A reunião teve como objetivo denunciar a opressão e discutir soluções na luta contra o racismo e o sexismo vividos, em especial, por essa parcela da população feminina, dando visibilidade à luta das mulheres da região, pois a cor da pele foi a característica classificatória que se impôs, tanto nas taxonomias científicas como nas concepções mais populares sobre as raças humanas, dito isto pensar num encontro mulheres negras da diáspora africana celebrando um reconhecimento mundial de suas histórias de vida, que são imprescindíveis para à construção de um mundo solidário, multiétnico e pluricultural.
Sabemos que a questão de gênero somada à raça gera maiores desigualdades, pois a mulher negra, ainda hoje, está longe de atingir os espaços institucionais de poder, o que gera uma necessidade de criar reflexões sobre o feminino negro e suas várias perspectivas e ações, destacando sempre à resistência das mulheres negras em toda a América Latina na luta contra o racismo e o machismo.
Em 1992, como resultado do I Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe, foi criada a Rede de Mulheres Afro-Caribenhas e Afro-Latino-americanas com a participação de organizações e mulheres negras de trinta e três países da região. Durante os dezoito anos de existência da Rede, foram realizados três encontros regionais e uma Assembleia Geral. Primeiro Encontro: 1992 na República Dominicana; Segundo Encontro: 1996 na Costa Rica; Terceiro Encontro: 2006 na Nicarágua; e Primeira Assembleia Geral: 2008 na cidade de Colón, República do Panamá.
Durante o encontro em 1992 instituiu-se o 25 de julho como o Dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha que destaca a resistência das mulheres negras em toda a América Latina.
O Brasil, por sua vez, só adotou a data no calendário oficial da nação em 02 de junho de 2014, o que consagrou o país como o último a celebrar o dia de maneira oficial. A lei 12.987, proposta de autoria da ex-senadora Serys Slhessarenko (PT), escolheu por homenagear o 25 de julho com o nome da líder quilombola do Mato Grosso, e transformar a data em Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Tereza de Benguela, a grande homenageada do Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha, foi uma líder quilombola que ajudou comunidades negras e indígenas na resistência à escravidão no século XVIII. Após a morte do marido, José Piolho, Tereza assumiu o comando do Quilombo Quariterê e o liderou por décadas. Ficou conhecida por sua visão vanguardista e estratégica.
Sua liderança se destacou com a criação de uma espécie de Parlamento e de um sistema de defesa. Ali, era cultivado o algodão, que servia posteriormente para a produção de tecidos. Havia também plantações de milho, feijão, mandioca, banana, entre outros.
O dia 25 de julho, Dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha/ Dia Nacional de Tereza de Benguela, existe para lembrar a luta diária, de sobrevivência e de ascensão social, indo além das políticas públicas que melhoram vida de quem a sociedade reservou apenas o lugar da senzala.
A data se tornou importante por chamar à reflexão para a situação de um dos setores mais explorados e oprimidos da sociedade, que é a mulher negra, e para os indicadores sociais, econômicos, políticos, que denunciam essa condição da mulher negra na sociedade brasileira possibilitando também resgatar a história da mulher negra no Brasil.
Gisele Rose da Silva é professora da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ). Mestra em Relações étnico raciais pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ), Especialista em Energia e Sociedade no Capitalismo Contemporâneo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Graduada em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Membro da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN) e da Comunidade As Pensadoras. Colaboradora e idealizadora do Projeto Fun-L’Agbára. Autora de: Azoilda Loretto da Trindade: o baobá dos valores civilizatórios afro-brasileiros e O Curso de Energia e Sociedade no capitalismo contemporâneo. Organizadora das Antologias: Mulheres Pretas de Fé tecendo fios de liderança e representatividade, Lute como uma Professora, Cartas para Azoilda e Construindo Identidades: Vivências e Desafios da Aplicação da Lei 10.639/03 nas salas de aula.